sábado, 3 de setembro de 2016

CANÇÕES DE FRANCISCO


Nossa Pentalogia Poética trás cinco poemas de Francisco Fagundes tendo como fio condutor o termo CANÇÃO no título.

O termo CANÇÃO em seus títulos nos coloca em sintonia com a melopeia em seus poemas, e que segue na terceira parte de sua obra, essa saudade se transforma em blues se eternizando, presente em alguns títulos.

A fanopeia aparece no seu remeter-se ao passado lembrando-se da seresta que não mais existe, mas que se canta o amor que ainda resta, ou pela saudade da moça triste e do velho em que o poeta se transformou pelas derradeiras madrugadas. E tudo se arremata na canção triste.

O poeta também, em outros poemas dessa obra, nos faz se sentir solidário com o Pedro Poeta em sua morte sentida no morro, mas ignorada pela cidade. Joãozinho Tristeza e sua faina amarga.

Para completar a trilogia de Enza Pound, temos a logopeia bem explicitada em Elementar, Meu Caro e Admirável Gado Louco, nos levando aos clássicos universais da literatura.


A trilogia de Enza Pound perpassa a trilogia “flor-abraço-saudade” de Francisco Fagundes nos abocanhando pela originalidade de seus versos.

CANÇÃO DE SERESTA ANTIGA

Não é mais tempo de seresta
Mas eu venho te embalar;
Trago o amor que ainda resta
-E um resto de luar.

Com certeza é primavera
Bem distante, em algum lugar.
Com certeza, alguém te espera
Em um porto, no além-mar.

Não é mais tempo de seresta
(Vem depressa, vem cantar!)
Eu via lua, de uma fresta
No horizonte, beijando o mar.


CANÇÃO PARA UMA MOÇA TRISTE

Existe uma moça triste
Que do amor se perdeu
Perdida em cada esquina
Do olhar dos olhos meus.

Existe uma moça triste
Que por amor enlouqueceu
Querendo viver a vida
De um jeito apenas seu.

Existe uma moça triste
Que não vê as estrelas do céu
Morrendo em cada saudade
Do amor que não viveu.

Existe uma moça triste
Que insiste em viver ao léu
Nos braços de outro homem
Pensando ser ele eu.

CANÇÃO DAS DERRADEIRAS MADRUGADAS

O velho saiu pela noite,
Saiu pela noite a cantar
Com suas sandálias surradas
Debaixo de um céu estelar.

O velho saiu pela noite
(Alcoólico de pasmar!)
Com seu andar de marujo
Que sente saudade do mar.

O velho saiu pela noite
Levando um azul no olhar;
Toda a grandeza do céu,
Toda a beleza do mar.

O velho saiu pela noite
Saiu pela noite a sonhar.
O velho sou eu pela noite
Levando, no sonho, o luar.


CANÇÃO PARA UM SOLO DE PISTON

(para Felício M. Fagundes)

Já é noite, de repente
E eu não vi
o dia passar.

Meu Deus! Já é tão noite
Que tenho medo
                    do outro dia não chegar.

E se é noite aqui na terra,
Noite funda de medrar,
                    será noite, além, no mar?

Será noite de lamentos,
Lamentos tristes de partir,
                    ou será noite de luar?
Já é noite de repente...
Noite funda de medrar!
Meu coração, doce demente,
Vai no sonho se encontrar...


CANÇÃO ANTIGA

Saio a cantar pela cidade
Uma triste canção antiga,
Braços dados com a saudade,
Olhos baixos para a vida.

Por que choro pela tarde
Se ora vejo o que já via?
É que em meu peito já não arde
O mesmo amor que outrora ardia...


(Leia as demais postagens da série PENTALOGIA POÉTICA.

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