quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

JOÃO CARLOS ROSA: O FLORESCER DO POETA

 

JOÃO CARLOS ROSA: 
O FLORESCER DO POETA




SÉRIE: TEMPOS DE OURO DA LITERATURA MUTUENSE – I
 
“Há no poetizar deste autor a singeleza da fé nascida dos percalços e da contemplação do viver”

Trecho do prefácio do livro Uma vida de poemas, 
por Cláudio Antonio Mendes.
 
João Carlos Rosa nasceu em 23 de junho de 1960, casado, pai de cinco filhos, morador da comunidade Barra Longa desde nove anos de idade. Nasceu em Cabeceira de Laginha de Mutum, registrado em Centenário. É presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mutum. Teve seu primeiro livro publicado pela Lei Federal nº 14.017/2020, denominada Lei Aldir Blanc, Uma vida de poemas.
 
A lida poética de João Carlos Rosa vem da adolescência. Seus poemas não estão presos a um tema específico. O cotidiano no meio rural, a militância pastoral e social e os sentimentos de afetos e amor se misturam e pautam o seu lazer/labor na escrita criativa.
 
Em entrevista concedida no mês de setembro de 2022, ele fala do seu trabalho literário.
 
MUTUM CULTURAL: Como é seu o hábito de leitura?
JOÃO CARLOS ROSA: Sempre gostei de ler e escrever. Escrevo desde os meus 15 anos. Alguns escritos já se perderam.
 
MUTUM CULTURAL: Fale sobre o seu processo de escrita?
JOÃO CARLOS ROSA: Escrevi mais poemas, mas também escrevia peças de teatro para o grupo de jovens. A inspiração é uma coisa interessante.  Às vezes uma frase, uma palavra surge e desencadeia o processo.
 
MUTUM CULTURAL: Você pretende produzir textos em prosa, como crônicas e contos?
JOÃO CARLOS ROSA: Sim, penso em produzir prosas. Tenho alguns causos que gostaria de contar por escrito. Tenho que ler mais prosa para me aprimorar nesta forma de narrativa.
 
MUTUM CULTURAL: Você participou da Lei Aldir Blanc. Qual foi a sensação quando recebeu a informação da possibilidade de ter seu primeiro livro publicado? Comente sobre Uma vida em poemas:
JOÃO CARLOS ROSA: Assustou de início. Não esperava ser contemplado. Foi um sonho que se realizou. De repente ver seu livro impresso foi muito bom. Foi como se fosse um sexto filho. Eu selecionei para o livro os poemas que foram mais fáceis de encontrar. Coloquei o poema Pedaços, publicado no jornal Desperta Povo na década de noventa, mas acabou ficando de fora. O livro se limitava a cem páginas no máximo. A foto na capa do livro é de Barra Longa, foi para retratar o local onde moro desde meus nove anos.
 
João Carlos Rosa participando da Retomada Literária,
O Cafezeiro, dez/2021


MUTUM CULTURAL: Qual a sua interação com os outros escritores de Mutum?
JOÃO CARLOS ROSA: Já li muita coisa dos nossos autores. São bons livros. A literatura mutuense é bem promissora. Participamos recentemente da Retomada Literária n’O Cafezeiro. Tenho mais livros do Cláudio Antonio Mendes.
 
MUTUM CULTURAL: O que você planeja para esta nova década? E o que você espera da cultura municipal?
JOÃO CARLOS ROSA: Publicar mais livros. Participar de alguns projetos, alguma coletânea de forma cooperativa. A nossa cultura mutuense precisa investir mais em nossos autores, em nossos músicos, por exemplo. Nossos artistas deveriam ser mais valorizados pelo poder público. Não investir tanto e só em artistas de fora. Investir naquilo que é da cultura mutuense. Talvez as gerações futuras não vão valorizar o que temos por desconhecer nossas manifestações culturais.
 
 
NOTA DO BLOG: Esta postagem é parte do material levantado para TEMPOS DE OURO DA LITERATURA MUTUENSE – I (2011-2020).

Foto inicial: divulgação da obra na loja IBI LITERRÁRIO


PENTALOGIA POÉTICA EM
 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

PENTALOGIA POÉTICA: ZÉ RONALDO EM VIDA É ESTE INFERNO DE GUERRA QUE SE PERDE TODO SANTO DIA

 

PEQUENOS ESTILHAÇOS DA GUERRA COTIDIANA

PENTALOGIA POÉTICA DE JOSÉ RONALDO SIQUEIRA em VIDA É ESTE INFERNO DE GUERRA QUE SE PERDE TODO SANTO DIA

 

EDITORA: LIBERTINAGEM

ANO DE PUBLICAÇÃO: 2022

 

Somos soldados em uma guerra diária pela sobrevivência. Isto é fato. Então cada um veste sua farda, suas farpas, sua armadura, alma-dura, e parte para o campo de batalha. Seja no emprego, seja no empréstimo. Seja na produção, seja na prostituição. Tudo é consumo e todos somos insumos. É uma das conclusões possíveis em Vida é este inferno de guerra que se perde todo santo dia. Livro de poema lançando este ano pelo escritor residente em Mutum José Ronaldo Siqueira. Seus poemas sãos estilhaços desta guerra. Optamos nesta pentalogia por poemas menores, não pelo tamanho, mas pela concisão e pela temática/pólvora contida nos versos do poeta.

Os cactos também se abraçam

Línguo a presalização da fera

Empedregulho o lacrimar do tempo:

A ansiolitização das esquinavidas

Os premeditos do desejosamente

O enluvamento do luto-líquido

O arf-arfar no onomatópico do leito-leitoso

Inimprecisar o lapsamente do almar

As harpias só andam, agora, de Uber

Elas já não sabem mais

(Ou não querem)

Conjugar a terceira pessoa do plural

Do verbo

Coração. 

 

Dá nisso mesmo

Às vezes

Oxigênio

Mancha meu pulmão

De

Vida...

 

Poesia de combustão

Palavras queimadas

Não geram poemas

A gênese da poesia

Se encontra

Na alma

Incendiária.

 

Náufrago

Eu

Na casa de mim

Evitando as enchentes

Evitando as nascentes

Evitando-me.

O vago opaco

Eu

No corpo dos outros

Na alma alheia

Defendendo

De mim.

Espelho reverso

Reflexo da sombra

O vago opaco

Esquecido por ti.


Estamos na trincheira da cultura, pois sabemos que “é só a arte para nos defender” como escreve o prefaciador Whisner Fraga.


COMO ADQUIRIR O LIVRO?

instagram do autor: @zeronaldo_siqueira


Nota do blog: Esta postagem foi publicada originalmente no blog Resenhas do Cláudio. Republicada aqui por ser um autor que reside em Mutum.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A BOA CACHARAMBAMBA É DE 1930

 A BOA CACHARAMBAMBA É DE 1930



Este pisquim exaltando a Cacharambamba, marca de cachaça produzida por Domingos Mendes na Barra do Bronze não traz versos jocosos contra uma pessoa, mas diz sobre a cachaça produzida na década de 30 em nosso município.

Obs: Conservamos aqui a grafia como a recebemos.





A BOA CACHARAMBAMBA É DE 1930

01. A aguardente especial

que mereceu propaganda

é a do DOMINGOS MENDES

que ganhou a maior fama.

 

02. Não sou eu, por exaltado,

que digo que assim merece,

isto é sempre falado

pelo povo que conhece.

 

03. Negociantes fregueses

também compram a ruim por mafa

e vendem esta, a melhor,

oitocentos a garrafa.

 

04. Só faz o bom paladar

a boa cacharambamba,

à ficar-se só cuspindo

é melhor que os beiços lamba.

 

05. Vejam que dizem os médicos

a respeito de bebida,

quem bebe cachaça ruim

não pode ter longa vida.

 

06. O Paratí que na boca

não produz bom paladar

quando chega ao estômago

já causou um grande mal.

 

07. É a causa principal

que forma a debilidade

daí vem a Hidropisia

ou outra rivalidade.

 

08. Quem quer conservar saúde

procure cachaça boa;

fuja das coisas ácidas

e não beba água de lagôa.

 

09. Por isso aconselhamos

usarem desta aguardente;

outras fazem a moléstia

e esta cura o doente.

 

10. A cachaça ruim já fez

alguma idéia maluca;

quem bebe cachaça boa

não varia, nem caduca.

 

11. Procurem a afamada fábrica

quem quer se bem servido;

lá estará o DOMINGO MENDES

para atender o seu pedido.

 

12. Rio abaixo ou rio acima;

seja de qualquer maneira;

para baixo do córrego do Bronze

onde tem uma cachoeira.

 

13. Aí se avista uma roda gigante

com cinqüênta metros de altura

vê-se que está chegando

onde fabrica a pura.

 

14. Essa roda tem o nome

de Roda do Desempenho;

porquê é ela que movimenta

o moinho, monjolo e engenho.

 

15. Tem outra mais pequena

chama-se roda suprima;

apanha água no rio

e despeja no coxo acima.

 

16. Muitos ficam admirados

da água subir no apique;

em uma bica descer

no capelo do alambique.

 

17. Outros têm-se admirado

da idéia do joaquim;

sem ter visto outro fazer,

arrumar uma coisa assim.

 

18. Aos fregueses do DOMINGOS MENDES

nunca faltou a aguardente;

se eles continuarem

há de ser assim por diante.

 

Autor: Joaquim Mendes

Contribuição: Luiz Mendes (Filho de Domingos Rodrigues Mendes)


NOTA DO BLOG: Alambiques e cerverjarias é um dos nossos recortes de pesquisa do projeto HISTÓRIA ECONÔMICA DE MUTUM.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

FRANCISCO MAGALHÃES: ARTISTA MUTUENSE DE CORAÇÃO

 


(Última atualização em janeiro/2018)

Aimorés, MG, 1962 – Belo Horizonte, MG, 2017

Indicado ao Prêmio PIPA 2017.

Francisco Magalhães nasceu em Aimorés e viveu parte de sua vida em Mutum-MG, mas mudou-se para Belo Horizonte em 1975. Artista plástico, sua formação incluiu passagens pela EBA-UFMG, pela Escola de Artes e Ofícios de Contagem, e pela Escola Guignard UEMG. Participou de mostras coletivas e individuais a partir de 1984. Também participou de salões de arte, onde recebeu prêmios como o Prêmio Especial para Objeto e Escultura Alfredo Ceschiatti, no XXI Salão de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG; o Prêmio Exposição Individual no 44° Salão de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, PR; o Grande Prêmio da Prefeitura de Belo Horizonte no XVIII Salão de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG; e o Prêmio Banco Econômico, no XXXVIII Salão de Arte de Pernambuco, Recife, PE.

Vídeo produzido pela Do Rio Filmes, exclusivamente para o Prêmio PIPA 2017:




SOBRE SUA MORTE:

Artista Francisco Magalhães morre em BH

Professor da Escola Guignard e ex-direitor do Museu Mineiro foi incansável militante das artes.

Morreu ontem o artista e professor Francisco Magalhães, aos 55 anos, vítima de parada cardíaca. Chico, como era conhecido, foi um incansável militante da arte e da arte-educação. Professor do curso livre da Escola Guignard (Uemg), foi diretor do Museu Mineiro entre 2005 e 2011, quando coordenou uma série de projetos e ações educativas e aproximação entre comunidades e estes espaços, entre eles os Projetos Território-Museu Mineiro, Sobre Mesa de Queijos, Imagem Iluminada, Recordação da Visita, Cozinha Museu e O Museu Guardas

FONTE: https://www.uai.com.br.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

A ARTE COM OS ARES DO CAPARAÓ

 

A ARTE COM OS ARES DO CAPARAÓ

 


Argilano Rodrigues é artista plástico de Iúna-ES. Ele promove o evento BIENAL EXPOART LITERÁRIA ARGILANO ART'S.

A próxima edição será no próximo mês, dia 17. E nesta edição terá a participação do poeta mutuense Cláudio Antonio Mendes com o poema Um baú de histórias, inspirado na sua obra Casarão Rural, Casarão do Café, entre outros escritores e formadores de opinião convidados pelo artista.

Para conhecer um pouco sobre o evento o blog fez uma pequena entrevista com o artista iunense.

 


No dia 17 de setembro deste ano você estará promovendo em Iúna a IV BIENAL EXPOART LITERÁRIA 22. De que se trata este evento?

A BIENAL EXPOR ARTE LITERÁRIA ARGILANO ART'S, é uma exposição de Arte Plástica (óleo sobre tela) que começou despretensiosa e cresceu. Como tenho muitos amigos (as) escritores e outros, não escritores, e sim formadores de opinião, pessoas pensantes ...

Aí tive a ideia de convidá-los para comentar as obras com textos, resenhas, poesias, sonetos, crônicas ... E na abertura da exposição com o sarau poético recital, com todos os participantes. Junção perfeita com arte plástica e a literatura.

 ***

Como surgiu a ideia de unir arte plástica e literatura? Você tem alguma produção literária?

Foi uma ideia despretensiosa, na verdade eu sempre tive muitos amigos da literatura, escritores, poetas.... Talvez seja mais por isso mesmo.

E deu muito certo esse formato.

Mas eu não tenho nenhuma produção literária.

 ***

Qual ou quais outras atividades artísticas você já participou e produziu?

Sobre outras atividades artísticas que já participei, eu tive uma banda de Rock/punkmetal e tocava bateria...

 ***

Como foram as Bienais Expoart Literárias anteriores? Cite fatos que foram significativos para você?

Sempre foram muito boas nos dois sentidos, sempre com um bom público, e o sarau muito emocionante, Tenho planos de lançar um livro das BIENAIS EXPOR ARTE LITERÁRIA ARGILANO ART'S em 2023.

 ***

Na IV BIENAL EXPOART LITERÁRIA ARGILANO ART'S 22 você contará com a participação de um poeta de Mutum, houve participações de poetas mineiros antes?

Sim, sempre tem um poeta de Belo Horizonte.

 ***



O que o público encontrará no evento dia 17 de setembro?

O público que for na exposição BIENAL EXPO ARTE LITERÁRIA ARGILANO ART'S 22, no dia 17 de setembro, encontrará 30 obras a óleo sobre tela que foram produzidas nos anos de 2020, 2021 e 2022.

Não existe um tema específico, A coleção está dívida em:

·       Santos

·       Paisagens

·       Figurativos e outros

E um sarau poético recital maravilhoso que vai emocionar e dialogar com todos no seu íntimo, tanto no passado, presente e futuro.



sábado, 20 de agosto de 2022

DESTINO: A ESCRITA CRIATIVA DE SYLVIA LAIGNIER

 
DESTINO: A ESCRITA CRIATIVA DE SYLVIA LAIGNIER

 

A imersão de Sylvia Laignier no universo do mercado literário com sua obra comercializada em forma digital na Amazon é mais uma evidência de que Mutum é uma terra literária para além de Guimarães Rosa.
 
Neste pequeno bate-papo, a autora de Para onde ir? nos fala do seu primeiro livro da série Universo Segredos para o blog Mutum Cultural.
 
Quando e como surgiu o seu envolvimento com a escrita criativa?
Meu envolvimento com escrita começou na infância, logo que aprendi a escrever. Eu passava muito tempo com a minha avó paterna, enquanto meus pais trabalhavam, consequentemente como ela sempre foi envolta com leitura e escrita, nós duas passávamos horas escrevendo prosas e poesias.
 
E a ideia da série Universo Segredos? Ela veio antes ou depois de Para onde ir?
Esta questão foi engraçado. Quando eu tinha uns 13 anos estava totalmente indignada que os personagens masculinos dos romances que eu lia nos livros não eram muito legais, por exemplo, ciúmes, palavras torpes e etc, eu tinha ficado com raiva e minha amiga apenas disse "se está ruim, faz você algo melhor", meio que eu levei isso ao pé da letra e acabei fazendo um personagem com falhas, mas ainda sim uma ótima pessoa, por isso que o Ismael surgiu.
 
O que o leitor encontrará em Para onde ir?
Uma leitura mais fluída e calma, conflitos familiares, risadas, romance água com açúcar e indícios de amores para toda vida com os meninos.
 
Os quatro personagens principais, Marcos, Hugo, Yuri e Ismael surgiram independentes ou juntos na criação do Romance?
Então, voltando à pergunta, veio primeiro o Ismael. Mas, eu sempre fiquei chateada com o ponto dos protagonistas nunca terem mais de um amigo, por isso veio os outros, cada vez que eu explorava mais a escrita no livro do Ismael as ideias vieram para os dos outros, até montar tudo certinho com o roteiro.

O enredo nos parece ser adaptado em uma cidade grande, como Belo Horizonte.
É sim, adaptado em Belo Horizonte, porque eu sou mineira, escritora nacional e queria reinventar os clichês dos livros, então por que iria seguir aquela risca de se passar em outro país com o Brasil tão bonito para ser explorado?
 
O relançamento será sexta-feira, dia 26 de agosto de 2022. O que te levou a fazer este relançamento?
Foi o meu perfeccionismo. Eu queria fazer tudo certinho, por causa que tive problemas com revisão, arrumei algumas coisas que tive de fazer e deixei a versão ainda mais completa com o epílogo.

***
 
Então temos um destino, a leitura do livro de Sylvia Laignier que está à venda na Amazon: PARA ONDE IR?


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

UM MUTUENSE DE MUITO CORAÇÃO

 
Livro do escritor na Amazon

ENTREVISTA COM JOSÉ ARAUJO DE SOUZA
 
Completando a trilogia de postagens sobre o livro Operação Mutum de José Araujo de Souza, trazemos uma entrevista com o autor, alguém que gosta muito da nossa amada terrinha.
 
José Araujo de Souza nasceu em 29 de Outubro de 1945, Assaraí, pertencente hoje ao município de Pocrane, sendo que quando nasceu, tanto Assaraí como Pocrane eram distritos de Ipanema.
 
Aos dois meses de idade, seus pais Simplício Albano de Souza e Geracy Araujo de Souza mudaram-se de Assaraí para Aimorés, passando por Mutum. Segundo relatos que contaram para o nosso entrevistado, ele ficou em Mutum, por ter adoecido, aos cuidados dos seus avós, Olívio Araujo e Dona Cotinha, até que tivesse condições de voltar para a companhia dos seus pais. O que nunca mais aconteceu. Em Mutum ele seguiu morando até concluir o Segundo Grau. Indo para Belo Horizonte em 1966. Em Mutum ficou conhecido pelo apelido de Buté.
 
Em 2007, José Araujo de Souza sentiu-se honrado em ter Travessia lançado e exposto para vendas ao público no Stand da Oficina de Livros, durante a realização da XIII Bienal do Livro, no Rio de Janeiro.
 
Sua literatura é produzida cotidianamente, não tem um escritor de referência. Suas obras são solos. Já até produziu em outros campos da arte, mas apenas para fins didáticos quando lecionava. Mutum está presente em outros textos além de Operação Mutum como no Poema dedicado à terra do seu Coração
 
MUTUM
 
Há um pedaço de dor
encravado entre as montanhas
desenhadas contra o céu
(ainda será azul?)
e um rio nascendo dos olhos
formando na queda a cachoeira.
(ainda será fria e funda?).
 
Há um começo vermelho de noite
correndo ao encontro do encanto da lua.
(ainda será dos namorados a velha rua?)
 
Há no peito embrutecido uma suave saudade
e um coração ferido comandando o sangue
que flui para o corpo.
 
Lá, por certo, o tempo se incumbiu
de sucumbir tudo.
 
E ninguém mais se lembra de olhar
a montanha encantada e pedir um querer
de madrugada.
 
Nem flutua no rio a escura canoa
e nenhum menino desafia mais o remanso
ao entardecer.
 
Por certo, só existe a saudade que sinto de Mutum.
 
 
ENTREVISTA
(Entremeada com parágrafos de SOLIDOR, de autoria do entrevistado)
 
Qual a sua relação sentimental com Mutum? Você tem parentes aqui?
Eu sempre digo que sou mutuense. Desde que me entendo por gente, sou mutuense. Eu só vivi fora de Mutum, antes de vir para Belo Horizonte, por dois meses após ter nascido em Assaraí. Fui registrado lá. Sou, portanto, mutuense nascido em Assaraí. Digamos que, na dúvida entre o local onde nasci pertencer geograficamente a Ipanema ou a Pocrane, escolhi ser de Mutum, onde sempre vivi.
Tenho em Mutum meu querido irmão Olívio de Souza Araujo, Olivinho. O mais velho dos meus irmãos. Também tenho primos. A família Araujo é muito grande.
 
“Solidor é a solidão nascida de uma dor de não se ter mais. Surgida como por encanto, no final de um sonho, no começo de uma noite de chuva ou, até mesmo, na hora da morte. É a falta permanente ou passageira deixando marcas e maracás em cada batida surda do coração. É o vermelho do sangue correndo pelas veias dilaceradas, num contínuo fluir e refluir, pelo corpo cansado.”
 

Qual a sua formação e atuação profissional?
Minha formação profissional foi toda direcionada para o Magistério. Fiz o Curso Normal em Mutum, no Colégio Normal Dionísio Costa (grafado com i). Fui o primeiro homem a fazer o Curso Normal em Mutum. Eu era o único homem em uma sala de mulheres maravilhosas, a quem devo a conclusão dessa etapa. Sem a ajuda que tive delas, eu não teria conseguido concluir o curso. Fiz o Curso Superior de História na UFMG.  Depois, Pós Graduação em Metodologia do Ensino Superior. E, finalmente, fiz Mestrado em Educação. Lecionei em todos os três níveis de ensino. Primeiro e Segundo Graus, Superior e Pós.
 
“Solidor é fruto da paixão, desespero, vingança e ódio. É resultado de um amor. Um poema inacabado por falta de espaço no papel. Uma canção cantada baixinho, no ouvido direito da amada. É um lamento, um suspiro ou um nome soprado baixinho a se perder no vento. No nada.”

 
Como e quando foi seu interesse pela literatura?
Comecei a ler muito cedo.  Revistas em quadrinhos. Minha mãe era professora, então não faltavam material para leitura. De Monteiro Lobato a Jorge Amado. Na casa dos meus avós morava um médico, Dr. Bião, que me "mandava" sempre ler algumas revistas técnicas variadas, que assinava especialmente uma: Seleções de Raeder's Digest. Tinha de tudo. Contos, poesia, novelas, piadas, artigos científicos, enfim, uma verdadeira enciclopédia. Como era poliglota, o Dr. Bião insistia para que eu lesse algumas de suas revistas em outras línguas. O que eu não conseguia e me frustrava. Não sei, exatamente, quando comecei a escrever mas sei que sempre gostei.
 
“É solidor a saudade de não se estar mais na cidade natal. Ou quando se perde um pedaço da vida na morte de alguém. Quando, de um lugar qualquer distante no tempo, repentinamente, ressurge o cheirinho gostoso de comida caseira, feita pelas mãos da mãe que já não temos mais.”
 
 
Quando surgiu a ideia de escrever Operação Mutum?
A ideia me veio ao ler notícia de que os Estados Unidos assinaram um acordo com a Espanha, assumindo o compromisso de descontaminar a área atingida por bombas deixadas cair por um avião militar, em um acidente aéreo ocorrido em 1966, em Palomares, no sul da Espanha. Cinquenta anos depois, a população ainda continuava sofrendo os riscos de radiação. Imaginei, então, como seria se acontecesse a mesma situação em uma região montanhosa como a de Mutum. E fui criando a história na minha cabeça. Os personagens foram nascendo e o enredo sendo desenvolvido. Usei imagens da minha infância. Quando criança, muitas vezes fiquei olhando para o céu, altas horas da noite, acompanhando o piscar de luzes dos aviões que passavam sobre Mutum, vindo de não sei onde e indo para algum lugar desconhecido. Faziam parte dos mistérios da minha infância. Assim, apenas criei situações que imaginei para dar forma a uma história fantasiosa que já tinha começo meio e fim na minha cabeça.

 
“Solidor é chocolate escaldado em fogão de lenha. Bala de coco redondinha coberta de açúcar. Bola de meia rolando na poeira. Enchente de rio manso. Gabiroba do mato. Manga espada com terebentina na casca. Goiaba vermelha. É tristeza.”
 
 
Você tem outras publicações além de Operação Mutum?
Escrevi e publiquei outros livros. TRAVESSIA; CONSENOR; CANÇÃO PARA JULIANA; PELOS CAMINHOS DO TEU CORPO; DELES E DELAS; DELES; DELAS; MALDÍVIA; CONTOS ERÓTICOS DE QUALIDADE; OPERAÇÃO MUTUM; O LEÃO DE JUDÁ. São contos e poemas, contos eróticos e romances de ficção.
 
“Solidor é boneca de pano, rasgada, deixada num canto de um quarto. É calor de colo. Carinho de mão tocando de leve nos cabelos. Caminho de roça, cheio de mato. Preguiça gostosa de depois do almoço. Brinquedo de infância. É brincar de pique. É balanço. É cobra cega. Casamento de jeca. Pipoca. Balão aceso no céu. Lua cheia. Carnaval de rua. Banco de escola primária. É trança de menina. É Igreja na praça. Refresco de canudinho. Caldo de cana tirado na hora. É barquinho de papel descendo na enxurrada.”
 

Como é a sua rotina de produção literária?
Tenho um computador instalado no meu quarto. Assim, gosto de escrever quando a vontade me pega, sem um horário preestabelecido. Quase sempre, tenho mais de um trabalho começado, inacabado e arquivado à espera de que eu o termine. Não escrevo com um tempo determinado para concluir o que comecei. O certo é que posso acordar no meio da noite e dar sequência a alguma coisa que já comecei a escrever e deixei num arquivo qualquer. Ou posso, simplesmente, começar alguma coisa nova.
 
“Solidor é palavra inventada, que nunca esteve em dicionário. Mas que existe viva dentro de cada um de nós. É a saudade danada de uma coisa que incomoda. Mas que não queremos perder nunca, nunca, nunca..."
 

Fale sobre Travessias e quais são os projetos literários para o futuro?
O Projeto Travessia tem como objetivo distribuir gratuitamente, através das redes sociais, 10.000 (dez mil) exemplares em PDF, dos livros digitais de minha autoria, com versões em Português, Inglês e Espanhol. Esta é uma forma que encontrei de facilitar a vida das pessoas que se encontram em casa, impossibilitadas de manterem convívio social até com parentes mais próximos, por causa do risco de contágio com o COVID-19, essa praga que está dizimando grande parte da população mundial. Procuro deixar com essas pessoas os meus livros, para que possam ocupar um pouco mais do tempo ocioso que terão. Ler é uma boa forma de passar o tempo. Enquanto eu as ajudo, elas, em troca, me fazem mais conhecido.
Estou, no momento, concluindo mais dois livros. Ainda sem títulos. Um de poemas. O outro, de faroeste, uma história envolvendo bandidos e mocinhos no Oeste americano, mais precisamente no Estado de Nevada. Lá pelos idos de mil novecentos e pouco. Já estão bem avançados, mas sem prazo estabelecido para terminar. Vou caminhando, na velocidade que o tempo das histórias exigir.

***

O blog Mutum Cultural agradece ao escritor José Araujo de Souza por nos conceder tão enriquecedora entrevista.


DOIS LIVROS DO AUTOR NA AMAZON



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