sábado, 23 de março de 2013

POESIA: VIDA DE IMPROVISOS




Gêneros alimentícios
Genros alimentados
Geração de viciados
A vida em pedaços
Um pesadelo eterno
Do qual não me desfaço

A gente vive de improvisos
Ninguém avisa
Quando a bala em nossa direção
E abala
A opinião pública
Quando é publicado no jornal

A gêneses de tudo isso
Gênios de férias
Eu sei o quanto é sério
Ter certa vontade de lutar
Sem ter sequer luz
Sem ter sequer lucidez

Genes alienígenas
Gente subalimentadas
Geração de obesos
A vida em frangalhos
Nem um galho para se agarrar
Nem uma garra para predar

A gente vive de pretéritos imperfeitos
Ninguém sinaliza
Quando o sinal dos tempos soa o alarme
E arde
Feito fogo do inferno
Quando temos quase certeza
Que nosso futuro é incerto demais

A genitália de tudo isso
Genialidades jogadas no lixo
Eu sei o quanto é certo
Ter sempre vontade de levantar
E não ter sequer a cara lavada
E ter labutado e não ter nada

sexta-feira, 22 de março de 2013

POESIA: ENTRANHAS DA CIDADE


ENTRANHAS DA CIDADE
Corre-corre, come-come
Contos
E tem mortos na vala
E tem mortos no morro
E tem crônica policial
No jornal de amanhã

Tijolo a tijolo, tiro a tiro
Tiroteios
Você não veio
Você não vem mais
A paz é uma palavra estranha
Nas entranhas da cidade

Aperte os cintos, nunca se sente a vontade
Apressado, aperto o passo
A passagem secreta
A seita radical
Vamos todos ao cinema
Vamos todos ao Paradise

OLHAR QUE SILENCIA



Perca-se;
Salve-se;
Queixe-se;
Deixe-se;
Permita-se.

Possa se puder;
Queira se der;
Faça sempre o possível;
Desista de vez enquando;
E tente novamente.

Pare;
Olhe;
Escute;
Fale;
Sinta.

Sinta o paladar amargo das nuvens cinzas;
O doce azedo da vida só;
O agridoce das tardes vazias;
As noites frias nos dias de chuva;
As manhãs quentes dos compromissos adiados.

O futuro em conta gotas;
O presente sem passado;
Um momento único em uma história tola;
A vida toda em um segundo;
A iminência do imediato.

Olhe para si mesmo;
Veja o mundo que construiu;
As vidas que destruiu;
Os sujeitos que ajudou;
A ajuda que faltou.

Olhe para dentro de si mesmo;
Cale-se;
Critique-se;
Deixe-se;
Salve o silêncio surdo.

Permita a visão cega;
Visão que enxerga a alma pura;
Negue-se ao não pensar;
Pense em si mesmo ao negar-se;
Ouça o seu coração pulsar.

Hoje quis ver o mundo;
Enxergá-lo em um recibo um quatro quatro;
Em silêncio, só eu;
Quis escutar minha própria voz muda;
Quis auscultar a alma das pessoas.

Quis ver o brilho no olhar do algoz;
O açoite sem dó nem piedade;
A mordida feroz do cão faminto;
A riqueza de uns poucos;
A miséria de outros tantos.

Hoje quis ver a vida leve;
Ver a mãe feliz uma só vez;
A mesa farta;
O filho radiante;
Hoje quis ver o outro.

Hoje quis ouvir suas angústias;
Sentir as suas dores;
Ver os seus medos;
Pisar o seu chão;
Tocar o seu céu com minhas próprias mãos.

domingo, 10 de março de 2013

CULTURA ALÉM DOS ENLATADOS


Reproduzo esse post da Revista Ensaio Acadêmico de Fábio Vieira Ribeiro pois ele reproduz algo que eu gostaria de escrever sobre o cinema iraniano. Fugindo dos enlatados dos Estados Unidos. Por isso o nosso título "CULTURA ALÉM DOS ENLATADOS".
Não é incomum a ideia, mesmo (ou principalmente…) no meio acadêmico, de se tomar o cinema americano como sinônimo de cinema. Existem motivos para isso: num mundo cada vez mais visual, foi principalmente através do cinema que os americanos exportaram sua cultura para todo o resto do mundo. Mais que por meio da literatura e da música, para ficarmos com dois exemplos óbvios. Além das razões econômicas e políticas, que não precisariam ser aqui explicadas, é o caso de considerar que, além desses motivos, tal feito só foi obtido por conta do cinema americano possuir características que, legitimamente, permitiram-lhe alcançar essa condição. Nesse contexto, de quase onipresença da indústria cinematográfica americana, é espantoso que filmes como os produzidos no Irã cheguem a ser relativamente conhecidos em outros países e no Brasil. Não seria preciso qualquer pesquisa formal para constatar a existência de uma pequena lista de coisas desagradáveis, comumente associadas ao Irã: um governo teocrático, uma sociedade patriarcal, um povo oprimido por uma ditadura, obscurantismo, fanatismo, atraso, etc. Certa vez um colega observou espantado a um comentário meu sobre o cinema iraniano ser considerado por alguns críticos o melhor cinema do mundo: “Mas como? O que eles fazem além de ficarem falando bem do aiatolá?”.

A primeira certeza que nos surge quando assistimos a um filme iraniano é a de que não estamos assistindo a um filme americano. Ou a um filme feito em algum outro lugar do mundo que tenha no cinema americano sua grande inspiração. Tudo é muito diferente e perturbadoramente capaz de contradizer nossas certezas sobre o que vem a ser o Irã. Apenas por esse motivo, assistir a um filme iraniano é uma ótima oportunidade para pensarmos sobre coisas que antes ainda não havíamos pensado… Não seria igualmente necessário qualquer pesquisa para constatar que mesmo (ou, mais uma vez, principalmente) no meio acadêmico, apesar de toda a crítica existente à política “estadunidense”, são comuns os sonhos de lá vivermos, de um dia sermos como eles, de termos para nós um pouco daquilo que tanto condenamos. Tão frequente isso quanto raro encontrarmos alguém que sonhe conhecer lugares menos atraentes e menos assemelhados à cultura americana, que se disponha a passar alguns meses em Moçambique ou na Bolívia…

“M de mãe” não é dos filmes iranianos mais conhecidos; tanto quanto seu diretor, Rasoul Mollagholipour, falecido em 2007. Como de hábito, uma história simples, com pessoas simples, vivendo em um mundo de comovente e desesperada simplicidade. À véspera do nascimento de seu primeiro filho, um casal descobre que são altas as chances do mesmo nascer com graves problemas congênitos. O pai, incapaz de aceitar a situação, força sua esposa a abortar a criança. Mesmo horrorizada com o que vê nas clínicas que procuram, termina por se submeter à vontade do marido; e finalmente, falhando as tentativas, decide que terá o bebê. Encerra sua promissora carreira musical e é abandonada pelo pai de seu filho, que via sua carreira de diplomata comprometida pelo nascimento de uma criança com graves problemas de deficiência. As cenas iniciais são chocantes, sendo que todo o restante do filme se desenvolve em meio ao profundo desolamento daqueles que vivem no duro mundo da subsistência, que só raramente despertará nossa curiosidade ou compaixão por ser justamente isso, um mundo que parece existir apenas parcialmente…
O filme consegue, apesar de tudo, ser poético e belo como poucos. E ao mesmo tempo descrever, como raramente se vê, o sentimento que liga uma mãe ao seu filho. No início o pai tenta explicar à sua esposa o que lhe parecia ser um motivo para impedir o nascimento da criança: um ser que nunca conseguiria ser independente de seus pais; ao passo que sua esposa vai percebendo que, não fossem justamente eles, seus pais (e desde então, apenas ela), ninguém no mundo teria razão para cuidar de seu filho; que, portanto, teria ainda mais motivos e necessidade de amá-lo. Talvez o grande mérito de “M de mãe” seja o de conseguir dizer tanto sobre a natureza incondicional do amor, com elementos tão simples, com uma fórmula que só depois de terminado o filme percebemos ser talvez a única capaz de expressar tanto.

Em oposição a nossa visão caricatural do país, não são poucas as cenas que contrariam as certezas que adquirimos por meio das agências de notícias; como, por exemplo, a muito relativa condição subalterna das mulheres iranianas. Numa cena, uma amiga do casal esbofeteia o marido no meio da rua, ao perceber que ele havia decidido abandonar a esposa grávida. Mesmo as cenas do cotidiano, que do nosso ponto de vista seriam sempre marcadas pela opressão e pela “vontade dos aiatolás”, pouco se parecem com nossas fantasias a respeito de uma suposta e opressiva vida num país muçulmano. Visto por este ponto de vista, talvez surja uma dúvida óbvia a respeito de nossos próprios ideais de respeito às diferenças e amor à diversidade: quais seriam, efetivamente, nossos limites para aceitar aquilo que não pertence ao nosso mundo e ao conjunto de nossas convicções? Aparentemente, e a julgar pelo uso “politicamente correto” de nossos ideais de tolerância, tendemos muito mais a aceitar e lutar por ideias que, com grande frequência, são tão somente as ideias do grupo a que pertencemos ou, o que vem a ser o mesmo, que correspondam aos interesses dos grupos aos quais pertencemos. O preço a ser pago pela aceitação efetiva do “outro”, daquele que contraria nossos próprios interesses e convicções, é geralmente muito alto para ser espontaneamente pago. Como o próprio filme demonstra, tal desprendimento só faria sentido numa relação de incondicionalidade. Como frequentemente encontramos no amor entre mães e filhos.

Ficha Técnica
Título Original: Mim mesle madar
Gênero: Drama
Direção: Rasoul Mollagholipour
Duração: 110 minutos
Ano: 2006.
País de Origem: Irã

* FÁBIO VIANA RIBEIRO é professor adjunto da Universidade Estadual de Maringá (Departamento de Ciências Sociais) e Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).


sábado, 2 de março de 2013

FALANDO DE FILME

Essa postagem é sobre um filme turco intitulado Issiz Adam, que teve um ensaio cinematográfico do professor Antonio Ozaí da Silva. Veja abaixo parte do artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico:




Issiz Adam é um filme sobre ilhas humanas, indivíduos solitários incapazes de relacionamentos profundos; indivíduos isolados em si próprios, prisioneiros de relações superficiais e efêmeras, mas que necessitam desesperadamente de outros. Alper (Cemal Hunal) é o tipo ideal da solidão humana na sociedade moderna. Bem-sucedido, chef talentoso e proprietário do restaurante, Alper é um homem realizado, bem humorado, admirado e querido pelos que trabalham sob a sua liderança, Alper não aparenta ser um homem profundamente solitário.

Leia o texto completo em: ESPAÇO ACADEMICO

UM HUMOR SEM GRAÇA

Ao postar essa matéria jornalística, quero externar minha indignação com a questão do uso da Cultura para fins politiqueiros. Entendo que precisamos de uma política cultural como precisamos de política para tudo em nossa vida social. Mas a politicagem atrapalha e muito as questões culturais. Esse é um humor que não tem graça, só desgraça.
Em sentença da Justiça Federal do Paraná emitida na tarde nesta quarta (27), o cartunista Ziraldo foi condenado a dividir a devolução de R$ 290 mil usados na organização do 3º Festival Internacional de Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, realizado em 2005, no Paraná. Considerado um caso de improbidade administrativa, também conhecido como desonestidade na administração, Ziraldo está proibido de assinar contrato ou receber benefícios do poder público por 5 anos.
Leia a matéria em:  O CASO DE FOZ DO IGUAÇU.

É NOITE

É noite...A cidade se prepara para um sono reparador. Hora de repousar, renovar forças, recuperar energias perdidas durante a lida diária. Isso para alguns...Outros vêem na noite,principalmente de final de semana, a oportunidade de passear, estravazar, festejar. E muitos desses se perdem,não voltam para casa;a violência os arrebata do convívio com os seus. 
A vida se faz de aventuras, de voos,muitas vezes para o infinito, sem volta. Não há certeza de nada. Apenas voos livres que podem se tornar armadilhas fatais. E nossos jovens se arriscam nas veredas do duvidoso mundo noturno. São aves ansiosas por conhecer novas rotas,novos desafios. E nessa inocência de se acharem imunes,invulneráveis, são ceifados no seu mais sublime direito:viver e ser felizes, livres. Há que se cuidar da vida de nossos queridos passarinhos... Há que se lutar para garantir a eles o direito à sua juventude,libertá-los das amarras dos vícios, da violência. Que Deus nos aponte o caminho, a solução para esses grandes desafios encontrados pelos nossos pequeninos. Que Deus abra o coração dos nossos políticos para que se preocupem mais com nossas realidades e resolvam "trabalhar"em favor do povo brasileiro.


Rute Pires

NOTA: São pequenos textos publicados no facebook.